Chamada de artigos para secção temática:
“Ritmos presentes e futuros: Explorando a interseção entre Dança e Inteligência Artificial nas Artes Cénicas”
Data-limite de envio do artigo: 15 de março 2026
Previsão da Publicação: outono de 2026
Editores convidados:
- Fatima Wachowicz
- (Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Dança, UFBA, Salvador, Brasil)
- Wagner Miranda Dias
- (Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em História da Arte, São Paulo, Brasil; Universidade do Algarve, Programa de Pós-Graduação em Processos de Criação, Faro, Portugal)
A Revista Estud(i)os de Dança (RED) lança uma secção temática dedicada ao tema:
“Ritmos presentes e futuros: Explorando a interseção entre Dança e Inteligência Artificial nas Artes Cénicas”
Convidamos investigadores, académicos e profissionais a submeter contribuições originais para a Revista Estud(i)os de Dança (RED), que este ano explora o tema da Inteligência Artificial (IA) nas Artes Cénicas. A relação entre Dança e IA tem-se intensificado, revelando novas possibilidades criativas e pedagógicas, desafiando-nos a investigar as suas possibilidades. Esta interação inaugura um campo fértil para a inovação, mas também exige reflexão crítica sobre os impactos éticos, culturais e estéticos dessas tecnologias.
A reflexão sobre o que a IA oferece à dança e aos estudos das artes cénicas expande-se para considerar de que forma a dança e os estudos das artes cénicas podem, por sua vez, contribuir para a compreensão e aplicação da IA. Entendida como algo mais do que um simples instrumento, a IA levanta questões profundas sobre as suas implicações a longo prazo: representa um enriquecimento ou um empobrecimento para as artes, a dança e a cultura? Neste cenário, torna-se essencial discutir a ética subjacente à construção da imagem do corpo e às suas interações com a tecnologia.
Pioneiros como Merce Cunningham abriram caminhos ao integrarem tecnologia na criação coreográfica, utilizando softwares como o LifeForms e técnicas de captura de movimento. Mais recentemente, artistas como Wayne McGregor têm explorado diretamente a IA, como na obra Living Archive (McGregor, 2019; Olbrich, 2019; Williams, 2019), desenvolvida com o Google Arts & Culture, onde algoritmos geram novos estilos a partir do seu repertório. Ferramentas como o EDGE Dance Animator (Myers, 2023) e sistemas de cocriação musical em tempo real (Vechtomova & Bos, 2025) exemplificam como a IA pode colaborar na composição, análise e preservação do movimento. Além disso, plataformas como o DancingInside têm ampliado o acesso à educação em dança, oferecendo feedback em tempo real e superando barreiras físicas (Yang, 2023) sem, contudo, substituir o papel insubstituível do professor e das aprendizagens presenciais (Kang et al., 2023; Wang, 2024).
Na dança, a IA tem-se destacado na composição coreográfica, no treino corporal, na análise de movimentos e na preservação cultural, enquanto no teatro é aplicada em dramaturgias interativas e cenografias dinâmicas. Com o avanço da Inteligência Artificial Generativa (IAG), um subconjunto da IA concentra-se na criação de novos conteúdos através de algoritmos baseados em aprendizagem de redes neurais, como as Redes Neurais Generativas Adversariais (GANs) e Transformadores, como o GPT, para identificar padrões nos dados de treino e gerar outputs informativos.
De maneira geral, a inteligência artificial tem utilidade para artistas como apoio no brainstorming, planeamento de ensaios, geração de movimentos e documentação de trabalhos, sem substituir a intuição e a experiência adquirida. No entanto, a sua crescente presença traz preocupações éticas sobre direitos autorais, créditos, remuneração e consentimento. Algumas críticas concentram-se em aspectos específicos do impacto da IA, como preocupações com perda de empregos, criatividade, vigilância, desigualdade ou uso indevido.
O impacto dessa tecnologia reflete-se em vários setores, desde a produção artística até avanços científicos. Contudo, a dança liberta o corpo de normas sociais e cria novas subjetividades, mas as aplicações de IA na dança, como a captura de movimento e os avatares digitais, podem moldar as subjetividades e apontar para uma desmaterialização do corpo (Gil, 2025). Enquanto os dançarinos exploram o potencial criativo da IA em coreografias e performances, grandes empresas utilizam a tecnologia para recolher dados de movimentos, gerando tanto oportunidades quanto desafios éticos para o setor (Wingenroth, 2023).
Diante desse cenário, esta secção especial da RED busca reunir contribuições que reflitam criticamente sobre os limites e potenciais dessa interseção. Ensaios teóricos, relatos de projetos, análises de pesquisa e reflexões éticas são bem-vindos.
Este é um momento singular para pensar o futuro da dança e das artes cénicas em diálogo com a tecnologia — respeitando a tradição, estimulando a inovação e celebrando o poder expressivo do corpo em movimento.
Tópicos sugeridos:
- O uso da IA no treino corporal e na educação de movimento
- Ferramentas de IA para criação coreográfica e novas linguagens
- Acessibilidade e inclusão na relação entre dança e IA
- O papel da IA na preservação e catalogação do património coreográfico
- Presença expandida e experiências multisensoriais
- Preservação e arquivamento artístico com IA
- Narrativas e criatividade com IA
- Transdisciplinaridade e colaborações com outras áreas cénicas em diálogo com IA
- Redes globais e digitais de artistas interconectados com IA
- Ética e impactos culturais
- Corporeidade, movimento e identidade digital — desenvolvimento de corpos virtuais ou digitais guiados por IA
Referências bibliográficas
Rhizomatiks Research, ELEVENPLAY, & McDonald, K. (2019, April 30). Discrete figures 2019 @GRAY AREA, Grand Theater. Abstract Engine Co., Ltd. https://rhizomatiks.com/en/release/2019/04/30/discrete-figures-2019-gray-area/https://rhizomatiks.com/en/release/2019/04/30/discrete-figures-2019-gray-area/
Gil, J. (2025). Pontas soltas: Inteligência artificial, o outro, revoluções. Relógio d’Água Editores.
Kang, J., Kang, C., Yoon, J., Ji, H., Li, T., Moon, H., Ko, M., & Han, J. (2023). Dancing on the inside: A qualitative study on online dance learning with teacher-AI cooperation. Education and Information Technologies, 28(9), 12111–12141. . https://doi.org/10.1007/s10639-023-11649-0.
Olbrich, S. (Text). (2019, April 30). Living Archive: Creating choreography with artificial intelligence. Studio Wayne McGregor. Google Arts & Culture. .https://artsandculture.google.com/story/living-archive-creating-choreography-with-artificial-intelligence-studio-wayne-mcgregor/1AUBpanMqZxTiQ?hl=en
Williams, B. C. (2019). Living Archive [Instalação de vídeo]. The Music Center, Los Angeles. https://bencullenwilliams.net/livingarchivehttps://bencullenwilliams.net/livingarchive
Myers, A. (2023, 20 de abril). AI-powered EDGE Dance Animator aplica IA generativa à coreografia. Stanford HAI.https://hai.stanford.edu/news/ai-powered-edge-dance-animator-applies-generative-ai-choreography
McGregor, W. (2019, novembro). Living Archive [Experimento interativo]. Google Arts & Culture Lab. https://experiments.withgoogle.com/living-archive-wayne-mcgregor
Vechtomova, O., & Bos, J. (2025, June 13). Reimagining dance: Real-time music co-creation between dancers and AI. arXiv. https://doi.org/10.48550/arXiv.2506.12008
Yang, Y. (2023, 19 de dezembro). In what ways is AI disrupting the dance industry? Arts Management and Technology Lab. https://amt-lab.org/blog/2023/12/in-what-ways-is-ai-disrupting-the-dance-industry
Wang, Z. (2024). Artificial intelligence in dance education: Using immersive technologies for teaching dance skills. Technology in Society, 77, 102579. https://doi.org/10.1016/j.techsoc.2024.102579
Wingenroth, L. (2023, 28 de julho). How are dance artists using AI—and what could the technology mean for the industry? Dance Magazine. https://www.dancemagazine.com/how-dancers-use-ai/